Ainda
na onda olímpica e aproveitando a quantidade de textos, histórias, imagens e
experiências passadas em terras da Coroa Britânica, acho muito oportuno falar
sobre um tema que sempre me despertou interesse. Vamos ser honestos(as) (ou
menos hipócritas): que tal reformularmos o brocardo popular que diz “o
importante não é ganhar, mas competir” para “o fundamental é....ganhar!”? A
grande questão é como ganhar e, talvez mais essencial, o quê queremos
conquistar. Estas afirmações podem parecer (e são) um tanto genéricas, mas não é
difícil perceber sua aplicabilidade no dia-a-dia. Façamos isso pari passu[1].
Seria
no mínimo ingenuidade que alguém se colocasse em uma contenda pelo simples fato
de ali estar, sem qualquer objetivo ou meta a atingir. Se assim fosse, essa
pessoa talvez ainda não tenha percebido um dos aspectos da própria existência,
a saber, a imperiosa mudança dos estados ao longo da vida, como infância,
maturidade e velhice. É importantíssimo estabelecermos projetos possíveis,
ou seja, definir valores e a partir destes fixar objetivos a serem
conquistados. Afinal de contas, o quê queremos? Pode até parecer (e
também é) uma pergunta de natureza filosófica, mas igualmente prática. Ao definir
o que se quer, Você está direcionando toda uma existência para tal objetivo. E
isto não é pouco. Na verdade, revela a essência de si mesmo(a).
Mas
isto é apenas o começo de inúmeras contendas ao longo de nossas jornadas. Igualmente
podemos (e devemos) considerar como necessária, após escolhido o alvo, a preparação
para atingi-lo. Implica em renúncias, pode nos tornar um pouco obsessivos(as)
em relação à nossa meta, tudo isso em nome de algo que se almeja. Quiçá seja
esse o preço da glória: esquecer-se de si e do mundo para chegar ao seu
objetivo. Mas na contemporaneidade tal postura pode não parecer tão “politicamente
correta”. Isto porque vários são os exemplos de pessoas que mesmo se empenhando
de corpo e alma para atingirem o sucesso, também dedicam parte de seu tempo a
causas humanitárias, entre outras de mesmo feitio.
Por
fim, um dos três aspectos fundamentais relativos à vitória: como ganhar e
perder. Assistindo uma luta de Judô, tive uma explícita demonstração e exemplo do
que significa lutar, vencer e perder.
Dois lutadores, um da Alemanha e outro da Coréia do Sul estavam disputando a
medalha de ouro. Ocorre que, quatro anos antes, o alemão ganhou do coreano e
levou o prêmio. Até aí, nada de excepcional, a não ser o fato de que estava
montada uma legítima possibilidade do embate se tornar uma disputa de pura
revanche.
Mas
o que realmente surpreendeu foi reservado para o final. De maneira totalmente
justa, o coreano venceu o combate, aliando técnica, força e experiência. Ao ser
anunciada a vitória, o asiático não se conteve e, de joelhos, encheu os olhos
de lágrimas pela felicidade alcançada, especialmente pelo fato de que um ano
antes dos jogos sofreu um acidente em treino e houve a possibilidade de que não
conseguiria alcançar o índice para acompanhar a equipe de judocas. Isso nos
demonstra que a vitória (sucesso, êxito), não apenas numa atividade esportiva, mas
também em qualquer setor da vida é rigorosamente um quebra-cabeças que vamos
montando ao longo de nossas vidas.
De
modo idêntico, o que impressionou foi a atitude do alemão. Ao se
cumprimentarem, este último expressou um dos mais nobres sentimentos que um ser
humano pode experenciar: respeito. Foi de absoluta deferência que o germânico
ficou um bom tempo abraçado ao oriental, cumprimentando-o pelo brilhantismo do
sucesso. Isso porque o “ganhar” não implica apenas a superação de um(a)
adversário(a), mas fundamentalmente sobrepujar a si mesmo. Essa é, em última palavra, a vitória final.
[1] Expressão latina que significa "em igual passo",
"simultaneamente", "a par", "ao mesmo tempo" e, por extensão, comumente utilizado
no jargão jurídico no sentido de
"proporcionalmente”, “em passo igual”, “sem preferência" ou “em
igualdade de condições”, de modo que todas as partes sejam tratadas da mesma
maneira (retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Pari_passu).