Ao que tudo indica, a experiência ocidental
da meditação sugere que a pessoa deve ficar pensando (refletindo?) sobre
determinado assunto até que desenvolva estratégias ou perceba a mecânica para
a solução de um problema ou dificuldade, de natureza prática ou teórica[1].
Assim, estaria meditando aquela ou aquele que passa horas (dias, semanas)
concentrando sua energia em processos mentais para obtenção de respostas ou
esquemas pragmáticos. Grosso modo, e ao
menos do ponto de vista mundano, é o que se percebe de tal atividade.
De maneira diferente, e ao menos no que
respeita à espiritualidade de algumas tradições orientais, a prática da
meditação parte de outros pressupostos ou especificidades. É que, diversamente,
não se buscam argumentos ou montagem de estruturas lógicas mas simplesmente um
estado no qual os processos racionais não são utilizados, dando lugar a um
outro tipo de conhecimento[2],
que não é nem “melhor” nem “pior” que o obtido costumeiramente pela chamada “razão”.
Num ou noutro sentido, importa dizer que ao
longo de nossas existências, independendo de sua expressão material, submetemos
nossas mentes a um infindável processo de agressão, visto que incessantemente,
diuturnamente, estamos submetendo o aparelho cerebral a uma rotina de produção
de pensamentos e/ou energias. Não nos damos conta de que, como qualquer outro órgão
ou sentido, a mente, ao menos do ponto de vista material, está submetida a
regras e apresenta características como, por exemplo, o fato de também apresentar
cansaço ou exaustão.
Sendo assim, é no mínimo prudente que além de
todos os cuidados dispensados aos nossos bens materiais, limpando nossas casas,
fazendo revisões em carros, adquirindo novas tecnologias em informática, que
tenhamos igual (ou talvez até maior) diligência com nosso arcabouço mental. Dito
de outra forma: por que damos tanta importância às coisas se o que efetivamente releva é uma inteligência que as
utilizará? Tudo isso foi mencionado para que se possa chamar a atenção para um
fato que provavelmente todas e todos já perceberam: ficamos entretidos com nossos
pensamentos e sentimentos esquecendo-nos que isso também desgasta nossas mentes.
O que fazer diante disso? Dê um “tempo”. Pare
de pensar tanto. Respire. Perceba como outros componentes ou elementos entram
nessa equação chamada “vida”. E seja feliz. Muito feliz.
[1] É muito interessante observar, por
outro lado, que em alguns textos a prática da meditação compõe os graus de ascensão
mística, que por sua vez consiste “essencialmente em definir os graus
progressivos da ascensão do homem até Deus, em ilustrar com metáforas o estado
de êxtase e em procurar promover essa ascensão com discursos edificantes”, como
indica Nicola Abbagnano, em seu Dicionário
de filosofia, Editora Martins Fontes, 2003, p. 672.
[2] Tomando como exemplo a tradição do
Budismo, neste se entende que “a compreensão verdadeiramente profunda é
conhecida pelo nome de ‘penetração’ e consiste em ver as coisas na sua
verdadeira natureza, sem nome nem rótulos, sem
conceitos. Essa penetração só é possível quando a mente está livre de todas
as impurezas, de todos os condicionamentos e a visão interior foi desenvolvida
ao máximo por meio da meditação (...) O objetivo principal da meditação
consiste na contemplação ou observação pura (vigilância); compreender a vida e
as coisas como elas realmente são, sem ver o bem, sem ver o mal, sem apego, se
forem agradáveis ou favoráveis, sem aversão, se forem desagradáveis ou
desfavoráveis; enfim, sem condicionamentos, que são entraves à observação pura”,
como nos mostra Georges da Silva, em seu Budismo:
psicologia do autoconhecimento, Editora Pensamento, 2008, p. 86.
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