terça-feira, 14 de agosto de 2012

Três fundamentos



Uma das grandes contribuições que o empirismo moderno[1] trouxe, sem dúvida, e aproveitando o próprio termo empeiría (literalmente “experiência”, em grego), foi a de fornecer (algumas das) bases ao/do conhecimento humano. E é importante ter essa noção, visto que sempre tive vontade de escrever algo sobre relacionamentos humanos ou, mais especificamente, se podemos supor que existam bases (minimamente legítimas ou verdadeiras) para uma conectividade entre duas (ou mais) pessoas. Valendo-me novamente do subsídio empírico (pessoal), faço a pergunta: quer ter uma relação do mais profundo significado em sua vida (com seu/sua parceiro/a, família, amigos/as)? Fundamente cada palavra, gesto ou pensamento em três pressupostos: afeto, respeito e parceria/companheirismo. Em minha opinião, são os pilares de uma vida gratificante, com Você mesmo(a) e com qualquer outra pessoa. Qual o conteúdo desses elementos?

Por afeto não se quer dizer (e por incrível que pareça é preciso dizer que não é) apenas sexo, sexualidade, carinho, entre outros. Vai muito mais além, pois é de natureza paradoxalmente transcendente e imanente. Quanto à primeira, um grande exemplo é o do afeto (podemos nominá-lo como amor) de uma mãe por um(a) filho(a), o qual é levado às últimas consequências implicando até o sacrifício da vida daquela primeira pela felicidade ou existência destes. Já a imanência do afeto por alguém significa necessariamente colocar-se emocionalmente à disposição da outra pessoa, não no sentido de permitir qualquer tipo de desqualificação ou mero “uso” ou “vampirismo” psico-emotivo, mas ter a consciência de que podemos doar a energia de nossos sentimentos a fim de valorizar, estimular e auxiliar a outra pessoa a se superar. Afeto é, em essência, querer e principalmente fazer (algo) para que a outra pessoa seja feliz, e isso de maneira absolutamente incondicional.

Respeito é a compreensão de outro ser pelo que é e não pelo que gostaríamos que fosse e, diante disso, significa inevitavelmente não tentar mudar a outra pessoa apenas porque “queremos”. Provavelmente fazer isto nada mais seria do que projetar nossas próprias expectativas (ou frustrações ou ansiedades), transformando alguém tão somente em uma peça mal acabada de nossos desejos por um belo rosto, status socioeconômico ou qualquer outro valor transitório, por mais atraente que pareça. Respeitar alguém implica também em admirar nossa(o) parceira(a) pelo que é e faz, justamente por tais atributos. E isso não quer dizer que devamos concordar com tudo o que a outra pessoa pensa, fala ou quer. Sendo assim, o respeito pela pessoa com quem dormimos (ou não) todos os dias possui desdobramentos em todos os campos, seja na nossa conduta perante uma comunidade, quando criticamos (ou não) a esposa, o filho, uma amiga, bem como, por exemplo, quando mesmo não estando presente (e talvez especialmente nessas ocasiões), somos capazes de defender a honra da pessoa com a qual nos relacionamos.

Parceria, na pós-modernidade, talvez seja o elemento de maior dificuldade em termos práticos, se considerarmos a tendência ultra individualista contemporânea. Ser parceiro(a) ou companheiro(a) nos dias de hoje pode ser traduzido em duas expressões: comprometimento, por um lado, e desapego, por outro, agindo de maneira absolutamente harmônica. Quer isto dizer que apesar de termos, sim, nossos interesses (profissionais, pessoais), se nos dizemos companheiros(as) fica sem sentido que somente a outra pessoa tome atitudes para a diversidade funcione como unidade. Dito de outra forma, e utilizando uma analogia, ser parceiro quer dizer pensar e atuar como (e para uma) equipe, pois certos objetivos só podem ser atingidos unindo esforços. Mas, assim como o afeto, o companheirismo vai muito mais além do que uma “simples” união de intenções.


[1] Entendido aqui como o “movimento que acredita nas experiências como únicas (ou principais) formadoras das ideias, discordando, portanto, da noção de ideias inatas”, com expoentes como Francis Bacon, no século XVII (extraído, com adaptações, de http://pt.wikipedia.org/wiki/Empirismo em 14/08/2012, às 21:00).

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