Uma
das grandes contribuições que o empirismo moderno[1] trouxe, sem dúvida, e
aproveitando o próprio termo empeiría (literalmente
“experiência”, em grego), foi a de fornecer (algumas das) bases ao/do
conhecimento humano. E é importante ter essa noção, visto que sempre tive
vontade de escrever algo sobre relacionamentos humanos ou, mais especificamente,
se podemos supor que existam bases (minimamente legítimas ou verdadeiras) para
uma conectividade entre duas (ou mais) pessoas. Valendo-me novamente do
subsídio empírico (pessoal), faço a pergunta: quer ter uma relação do mais
profundo significado em sua vida (com seu/sua parceiro/a, família, amigos/as)?
Fundamente cada palavra, gesto ou pensamento em três pressupostos: afeto,
respeito e parceria/companheirismo. Em minha opinião, são os pilares de uma
vida gratificante, com Você mesmo(a) e com qualquer outra pessoa. Qual o
conteúdo desses elementos?
Por
afeto não se quer dizer (e por incrível que pareça é preciso dizer que não é) apenas sexo, sexualidade, carinho, entre
outros. Vai muito mais além, pois é de natureza paradoxalmente transcendente e
imanente. Quanto à primeira, um grande exemplo é o do afeto (podemos nominá-lo
como amor) de uma mãe por um(a)
filho(a), o qual é levado às últimas consequências implicando até o sacrifício
da vida daquela primeira pela felicidade ou existência destes. Já a imanência
do afeto por alguém significa necessariamente colocar-se emocionalmente à disposição da outra
pessoa, não no sentido de permitir
qualquer tipo de desqualificação ou mero “uso” ou “vampirismo” psico-emotivo,
mas ter a consciência de que podemos
doar a energia de nossos sentimentos a fim de valorizar, estimular e auxiliar a
outra pessoa a se superar. Afeto é, em essência, querer e principalmente fazer
(algo) para que a outra pessoa seja feliz, e isso de maneira absolutamente
incondicional.
Respeito
é a compreensão de outro ser pelo que é e não
pelo que gostaríamos que fosse e, diante disso, significa inevitavelmente não
tentar mudar a outra pessoa apenas porque “queremos”. Provavelmente
fazer isto nada mais seria do que projetar nossas próprias expectativas (ou
frustrações ou ansiedades), transformando alguém tão somente em uma peça mal
acabada de nossos desejos por um belo rosto, status socioeconômico ou qualquer outro valor transitório, por mais
atraente que pareça. Respeitar alguém implica também em admirar nossa(o)
parceira(a) pelo que é e faz, justamente
por tais atributos. E isso não quer dizer que devamos concordar
com tudo o que a outra pessoa pensa, fala ou quer. Sendo assim, o respeito pela
pessoa com quem dormimos (ou não) todos os dias possui desdobramentos em todos
os campos, seja na nossa conduta perante uma comunidade, quando criticamos (ou
não) a esposa, o filho, uma amiga, bem como, por exemplo, quando mesmo não
estando presente (e talvez especialmente nessas ocasiões), somos capazes de
defender a honra da pessoa com a qual nos relacionamos.
Parceria,
na pós-modernidade, talvez seja o elemento de maior dificuldade em termos
práticos, se considerarmos a tendência ultra individualista contemporânea. Ser
parceiro(a) ou companheiro(a) nos dias de hoje pode ser traduzido em duas
expressões: comprometimento, por um lado, e desapego, por outro, agindo de
maneira absolutamente harmônica. Quer isto dizer que apesar de termos, sim, nossos interesses (profissionais, pessoais),
se nos dizemos companheiros(as) fica sem sentido que somente a outra pessoa tome atitudes para a diversidade funcione
como unidade. Dito de outra forma, e utilizando uma analogia, ser parceiro quer
dizer pensar e atuar como (e para uma) equipe, pois certos objetivos só
podem ser atingidos unindo esforços. Mas, assim como o afeto, o companheirismo
vai muito mais além do que uma “simples” união de intenções.
[1] Entendido aqui como o
“movimento que acredita nas
experiências como únicas (ou
principais) formadoras das ideias, discordando, portanto, da noção de ideias
inatas”, com expoentes como Francis Bacon, no século XVII (extraído, com
adaptações, de http://pt.wikipedia.org/wiki/Empirismo
em 14/08/2012, às 21:00).
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