sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Karma e suas implicações - I


Por considerar importante que tenhamos uma visão relativamente ampla do maior número tradições filosóficas e/ou religiosas do que venha ser o conceito do carma, vamos a outras opiniões.

Esta, encontra-se no livro "A Reencarnação", de Patrick Ravignant, São Paulo: Martins Fontes, 1986, Coleção Oriente Secreto, p. 53: "A palavra karma provém de uma raiz sânscrita que significa 'agir', 'ação'. O karma é a ação no sentido mais completo e geral do termo, considerada não mais isoladamente, mas de maneira global, na medida em que toda ação se inscreve numa cadeia indissociável e ininterrupta de causas e efeitos. Tudo no universo é ação, e cada ação se desenvolve produzindo seus frutos, segundo um processo submetido a um determinado número de leis universais. No plano físico, essa causalidade parece evidente: se eu me pico, se recebo um golpe, sinto dor, etc.

Mas ela governa também os domínios emocional e mental, cada paixão e cada pensamento acarretando repercussões psicológicas de que resultarão outras paixões e outros pensamentos, numa roda sem fim. Em resumo, colhemos sempre, forçosamente, de uma maneira ou de outra aquilo que semeamos.
O que é preciso compreender bem, no mecanismo do karma, é que, ao agir sobre o mundo, em qualquer nível que seja, agimos antes de tudo sobre nós mesmos. As coisas, os seres, as situações aparecem e desaparecem na tela de nossa consciência. Intrinsecamente, um acontecimento é, ao mesmo tempo, neutro e desprovido de existência própria, porque inseparável da totalidade do mundo fenomenal. É nossa mente que fraciona a realidade, isola esta ou aquela seqüência, qualifica-a de agradável ou desagradável, de benéfica ou maléfica. Não são as coisas que nos atraem ou repugnam, nos exaltam ou nos aborrecem: é a opinião que temos das coisas."

É bom esclarecer que o conceito acima trata-se da tradição do Hinduísmo. Por sua vez, esta última tem pontos de contato com o Budismo, cujos conceitos veremos à frente.

Mais algumas aproximações sobre o Carma. Nesse particular, aliás, é muito interessante observar que no "Livro dos Espíritos", integrante da codificação Kardecquiana, não consta um tratamento específico sobre o carma, sequer num capítulo, ao menos de maneira explícita. Vejamos no "Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 2003, p. 105: "Sobre o que está baseado o dogma da reencarnação? Sobre a justiça de Deus e a revelação, pois, repetimos sempre: Um bom pai deixa sempre aos seus filhos uma porta aberta ao arrependiemnto. Não lhe diz a razão que seria injusto privar para sempre, da felicidade eterna, todos aqueles cujo progresso não dependeu deles mesmos? Não são todos os homens filhos de Deus? Somente entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem perdão. Todos os Espíritos tendem à perfeição e Deus lhes fornece os meios pelas provas da vida corpórea; mas, em sua justiça, lhes faculta realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova".

Do que foi visto, podemos elencar algumas inferências do que podemos entender ou perceber do que venha ser o carma:

1) é um princípio ou lei presente em todo o Universo, material ou imaterial, significando isso que nada nem ninguém "escapa" ao carma. Fazendo uso (não literal) das palavras do próprio LLorde Shakyamuni, mesmo dentro da mais alta montanha, no mais profundo dos mares, ou em qualquer reino que se esteja, todos os seres estão submetidos à lei do carma;

2) é um princípio ou lei de caráter totalmente impessoal, significando isso que não há, absolutamente, "alguém" que esteja "punindo" ou "recompensando" alguém pelos atos praticados;

3) o carma funciona, por assim dizer, automaticamente, independentemente de uma "ordem" ou "comando" de uma autoridade espiritual, pois trata-se da sucessão, por assim dizer, de causas e conseqüências ou, dito de outra forma, de ações e reações cármicas;

4) não há uma noção de valor no carma, ou seja, alguém não nasce "bom" ou "mau", apenas a conseqüência
de atos, pensamentos e palavras praticados, se forem positivos ou negativos, gerarão necessariamente condições positivas ou negativas num futuro renascimento e, além disso, se reunidas as condições suficientes para tal;

Ocorre que cada indivíduo carrega em seu corpo (peri)espiritual uma quantidade de informações cármicas que estão, também, latentes, em cada um. Desta forma, surgindo a oportunidade, caberá à cada um optar por (re)ativar o que já se encontra presente não apenas no psiquismo, mas também em níveis muito sutis de uma pessoa, que no Budismo são chamados samskharas, ou formações cármicas.

Até certo ponto é correto dizer, por um lado, que nosso destino está "pronto", mas é imprescindível perceber que ao dizer isso, deve-se compreender que há coisas que não poderemos alterar, como o fato, por exemplo, de alguém renascer na condição de uma pessoa portadora de necessidades especiais. Por outro lado, mesmo em tais condições, cabe a tal pessoa optar por esta ou aquela atitude.

Continuemos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário