domingo, 21 de agosto de 2011

O Karma e suas implicações - VII




A úlima panca-sila trata de um assunto que ensejaria uma infinidade de interpretações. Por isso, tentarei ser o menos discursivo possível. Ao se dizer que se deve evitar os intoxicantes, é possível que se possa entender ao menos que: 1) não se deve ingerir comida, líquidos ou quaisquer alimentos que possam de alguma forma produzir algum tipo de efeito intoxicante, como por exemplo, chás alucinógenos ou bebidas alcoólicas; 2) não se deve interagir com qualquer tipo de substâncias que possam produzir efeitos danosos como, por exemplo, cigarros, drogas e coisas afins; entre outras interpretações possíveis.

Entendo que é sempre importante ter em mente um princípio simples, mas de largo espectro de atuação, ou seja: valer-se de tudo aquilo que possa conduzir ao despertar. Pode parecer bastante genérico, mas vejamos como isso se dá na prática. De um modo geral o ocidente, segundo entendo, tornou-se, por assim dizer, "permissivo demais". A acumulação capitalista, a grande quantidade de correntes filosóficas e religiosas, entre outros fatores contribuíram para que fosse formada, além de outros efeitos, uma permissividade e/ou falta de disciplina em relação a determinados, os quais saltam aos olhos. As festas orgiásticas, o desregramento, a noção de que "se tenho dinheiro eu posso", auxiliaram em muito para que no mundo ocidental (quase) todo tipo de experiência possa ser, dentro de certos parâmetros e num certo tempo, vista em alguns casos até como "salutar".

Exemplifico: nenhum de nós, ocidentais, ao menos até onde sei, recebeu em sua educação formal, aulas ou orientação sobre hábitos alimentares, o que, em regra, só é feito quando a pessoa opta por fazer uma universidade de nutrição. Basta dizer que os Estados Unidos é o país onde mais se morre de enfarto do miocárdio no mundo. E por que? Bom, seria no mínimo ingenuidade não considerar que os americanos comem a comida mais gordurosa do planeta.

O que quero dizer com isso?
Compreendo que o "espírito" da última panca-sila, ou seja, evitar os intoxicantes deve ser visto de uma forma bastante simples, ou seja: evitar tudo aquilo que, de alguma forma, cause um torpor ainda maior do que aquilo que ordinariamente já vivenciamos. E qual a razão de ser desta afirmação? Partindo do princípio que tudo, absolutamente tudo é elaborado e/ou percebido pela mente, chegamos a (quase) incontestável conclusão de que toda a realidade, ou, melhor dizendo, tudo aquilo que se denomina realidade é uma combinação de fatores, que remonta ao que o Buda Shakyamuni já ensinava como sendo a nossa já conhecida realidade condicionada.

Desta forma, parece-me evidente que, se nossa mente, em razão das delusões (ou ilusões), infinitos renascimentos anteriores, entre outros motivos, está, por assim dizer "programada" para perceber (uma) realidade de determinada maneira, é no mínimo sensato agir no sentido de que a própria mente torne-se mais e mais, digamos, "pura", ou esclarecida. Porque, se é a mente que está coberta pelas ilusões é também por intermédio de uma mente pacificada, lúcida, clara, que poderemos perceber o Uni-verso como ele em última palavra se manifesta e apresenta e, assim, iniciar o processo de atingimento da budeidade.

Por conseguinte, todas as formas de torpor, causadas pelo álcool e quaisquer outros tipos de drogas, evidentemente só poderiam contribuir para a manutenção de nossas ilusões. Mas, é bom que se diga algo sobre isso. Não quero aqui fazer apologia no sentido do ataque ou defesa de drogas ou, genericamente, quaisquer intoxicantes, mas sim fazer a defesa de algo mais simples, como o bom-senso...Por que digo isso? Na minha opinião, não vejo o menor mal em, num belo dia, reunir-me com amigos, num ambiente harmônico, para conversarmos, tudo isto regado a um bom vinho com saborosos queijos... Que mal há nisso? Não vejo nenhum...
Tulio

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